segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A chuva e o meu amor



As gotas de chuva começavam a demonstrar seriedade. Inerte, eu não conseguia me mexer. Parado ali naquele banco de praça eu não suportava a ideia de tanta espera. Fazia tanto tempo que eu estava ali, imóvel, esperando que ela se aproximasse e me fizesse feliz, mas ela não chegava. Não entendia o porquê da demora e nem sabia ao certo se havia qualquer motivo. A realidade é que eu corri muito para esperá-la.

A água insistia em cair mais forte e eu já não sentia as lágrimas escorrerem por meu rosto. De cabeça baixa, derrotado, me vi no meu ponto mais fraco. Desisti de lutar, me fartei de tanta queda, mas no fundo eu ainda a queria. Lutei tanto para tê-la, desejei tanto seu rosto perfeito para mim.

Comecei então a duvidar dessa coisa de destino. As pessoas viviam dizendo que temos que merecer para ter algo. Minha cabeça ficava mais confusa com essas declarações. O que eu fazia que a afastava? Quanto mais eu esperava por ela, mais ela demorava a chegar. Pensando nisso, não pude evitar os soluços. Lavei meu corpo e minha alma naquele banco de praça.

As pessoas passavam e me olhavam. Traziam estampadas nos seus rostos a certeza da minha loucura. Eu não estava louco! Não muito. Eu só queria o meu amor. Esperei por anos a vida de paz e felicidade que vendem na TV. Combati muitos demônios, atravessei vales com pouca luz, naveguei em mares agitados; tudo isso me fazia crer estar preparada para encontrá-la.

Afastei esses pensamentos. Com uma sincronia interessante, levantei-me no exato momento em que a chuva cessou. Eu não trazia guarda-chuva e estava ensopado. Olhei para o céu e vi umas rajadas de azul começando a despontar. Ri. Naquele instante tive a certeza do quanto fui bobo esperando. Ri mais e mais, e mais alto. E girei, saltitando, feliz com a minha certeza: eu era um tolo!

Mais uma vez as pessoas não compreendiam meus gestos e mais uma vez me chamavam de doido. E eu ria delas. Ria das ruas cinzentas. Ria do sol sobre a minha cabeça. Minha vida começou a fazer sentido para mim e eu me sentia eufórico. E corri. Corri pelos jardins da minha liberdade e pelos bosques de paz que agora eram o meu próprio ser. Sentia-me criança. Sentia-me sereno. Sentia-me como eu mesmo.

Sem perceber, segurei meu olhar no dela. Não sabia como era possível, mas eu a reconheci. Fiquei parado, mas dessa vez de pé. Ela riu. Riu de mim e para mim. Um riso que não vi logo, mas que eu sabia que só podia ser dela. Estendeu-me as mãos. Com olhos traquinas me ajudou a caminhar. Eu ainda sentir um torpor percorrer todo o meu corpo, mas ela estava ao meu lado. Eu quase não acreditei.

E ela pintou os meus dias com as cores do seu sorriso e a serenidade dos seus olhos-esmeralda. Ela coloriu minha vida e me convidou a caminhar com ela por entre as ruas dos sentimentos bons. Ela não é um passado. Ela não é um sonho.


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